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Crônica da Metonímia de Fim de Mundo
“Só se recorre a dialética, quando não se tem mais nenhuma saída” – Nietzsche
Era dia de semana, qualquer dia desses, pode ser quarta-feira mesmo, afinal, tudo termina na quarta-feira. Um menino olha perdido pela janela esperando algo que não vai chegar. Ele se lembra de um dia de outrora quando fora adulto, culto, ou será o contrário? Ele era ainda mais menino e se lembra bem das noventa e nove cores que enxergava pela televisão preto e branca. Era muito colorido e se televisão transmitisse cheiro, bem, não enxergaria mais nenhuma diferença entre o mundo real ou o mundo que começava na TV e se estendia em sua protoimaginação. O menino da janela não se lembra porque sempre se lembra do outro menino que fora antes que é o mesmo menino dele aliás. Confuso não? Esta é apenas a membrana da célula. O menino da janela pensa que está olhando a madrugada preto e branca que o cerca. As noites tem sido extremamente anticoagulantes, sentindo-se apertado pela mais pesada armadura medieval que o impuseram. Seu coração nunca foi blindado. O sono lhe fugia como se parecesse que o conhecesse, como todos que o conheciam fugiam aliás. Ele vagueia sozinho pelas ruas de Tóquio sem saber que estava verdadeiramente ainda na janela. Sozinho sim, perambula por Tóquio e todos que passam sobre ele o vê e o cumprimenta, ohayo-gozaimazu! O mundo opaco não o impede de ver o intangível como teu tato, sensibilidade, concentrada apenas entre teu tórax. As borboletas em teu ventre formaram casulo no seu galho preferido de solidão e retornaram ao estado larval, devorando suas entranhas, rins, pulmão, fígado e quando chegam ao coração param. Chove a noite inteira. Eu detesto chuva, mas a noite, tudo bem, tudo passa; pensa. Da sua janela ele se vê em Roma. Roma não se construiu em um dia, e Roma invertida não se destrói em um pôr-do-sol. Tudo que sentia era humano, demasiado humano, de mais o super-humano. Cinco sentidos fadados a se sensibilizar por cinquenta tons em preto e branco. Cinco sentidos que não apontavam nenhum sentido comum entre si, e desde a quarta feira não faziam mais sentido. Não só as cores, os jardins e constelações puseram todo o teu charme cósmico para correr. Tudo o que fizera é como as pétalas do antigo jardim que despedaçastes ao vento, na segunda-feira, ou a poeira estelar que colhera, ela(s) não vão voltar. Um gole, dois goles, três goles... e a água era a única coisa que engolia com gosto; logo a água! Dans ta rue, il y a de gent (Em sua rua, há pessoas – pt) que o cumprimenta também, assim como em Tóquio, fala mano! E aí mano! Um sorriso singelo, um abraço amare... preto e branco. A quinta feira chega e ele não sai da janela. Sei muito bem que no Dia Depois do Amanhã ele continuará tendo que levantar. Em terras queimadas já se fizeram as melhores colheitas e em terras vulcânicas nem se fale mais. As vozes que todos ouvem em sua mente menos ele próprio susurra-o: “Não vai voltar”. Mas como tudo na mais íntegra metonímia, nada dói insubstituivelmente.
(Será respeitado o máximo possível a norma padrão do português brasileiro, porém digo de antemão que não sou expert, portanto serei passível de alguns erros, sem contar palavras de outro idioma e neologismos que poderão conter nas postagens.
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Por uma vida sabida e vivida!!!